quarta-feira, 2 de junho de 2010

Primeiro Capítulo

(Continuando o jogo literário proposto no post anterior, tenho a honra de publicar o primeiro capítulo de nosso best seller ainda sem nome, escrito pelo Gustavo. O segundo capítulo será escrito pela Menina Misteriosa, indicada por ele para contribuir com essa saga. Ficamos no aguardo.)

Capítulo I

A balada das minhas origens

Minha certidão de nascimento foi maculada pela expressão Pai Desconhecido. Hoje em dia pode não parecer grande coisa, mas naquela época era o que precisava para meio mundo me chamar pelas costas de "filho de uma prenda desmiolada". Quantas e quantas vezes acenei de cabeça e concordei calado quando em roda de conversa algum interlocutor benevolente, sem saber minha condição, dizia "Mas pra quê colocar isso na certidão? Vai condenar o coitado a vida toda. Invente um nome qualquer, João da Silva que seja".

Minha cidade de nascimento é Quaraí, está ali na certidão. Fica perto de Santana do Livramento e da tríplice fronteira. Cidade de índio-velho, como minha boa mãe costumava dizer quando eu perguntava das origens. A propósito, minha mãe tinha lindos olhos azuis ofuscantes. E foi a força persuasiva desses olhos que nos libertou de viver praticamente enclausurados na casa de meus avós. Não tenho lembrança deles, pois antes que eu completasse três anos minha mãe aproveitou a passagem de um viajante abastado e conseguiu condução e teto para nós dois no Estado do Paraná. Saímos fugidos da casa de meus avós, e como minha mãe era temporã, nem por foto os conheci.

Quaraí é uma palavra linda, de origem Tupi-guarani e significa: "rio das garças", o que aprendi depois de pesquisar muito na escola do bairro São Francisco, em Curitiba, onde o viajante nos instalou e onde vivemos por muitos anos. O clima é parecido com o da minha terra natal, frio cortante, mas desde os anos 60 é uma cidade grande, o que fez a vida de minha mãe dar uma guinada. E me isentou de muitos problemas na infância e adolescência, pois nada é pior do que ser conhecido como filho de uma mãe-que-ronca-e-fuça.

O São Francisco é o bairro mais antigo de Curitiba no que se pode chamar de paisagem urbana. Desde o início do século XX já era conhecido com esse nome, e desde que nos instalamos num sobrado gélido e de pé direito alto, minha mãe passou a frequentar a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.

Desde cedo chamei o viajante de pai, e não é preciso muito discernimento para deduzir que o Sr. Cândido Schahin só passava em casa um final de semana a cada quinze dias, e que superada a adolescência eu já inferia que ele mantinha outra família. Outras talvez.

Minha mãe foi batizada Querência, tinha lindos olhos azuis, corpo de menina, muito tempo livre e duas características de personalidades que, juntas, compõem uma mistura explosiva: senso prático e egoísmo.

(um muito obrigado de toda a nossa equipe de relações com investidores ao Gustavo. À Menina Misteriosa, boa sorte).

2 comentários:

  1. Sandi,
    O Gustavo escreve muito bem. Vir, depois dele, é muita responsabilidade... vou precisar da sorte, sim... obrigada!

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  2. Gustavo,

    Gostei muito muito, viu?

    :)

    Você é bom aqui e lá no Minicontosperversos hehehe

    beijo pra ti

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