sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Décimo Primeiro Capítulo

(Conforme prometido, publico, dentro do prazo, mais um capitulo da "carta a Rubem", como já dito por alguns. Escrito pela Ludmila Carvalho, que botou na roda a Iza Bel, a próxima da lista. Deliciai-vos.)

Capítulo XI 

A última vez que vi o céu azul

Segurança, segurança, segurança… Aquele meu velho mantra ecoava em minha mente, e na manhã do dia seguinte, acordei decidido a voltar para casa, para os braços de sua mãe que eram, acima de tudo, o meu lar.

Foram tantos dias ausentes, tantas desculpas e tantos subterfúgios para manter-me ao encalço de Simone, que havia negligenciado minha família, minha vida bem sucedida, estável e sólida. Você, meu filho, estava prestes a vir apo mundo, e eu não estava participando desse percurso.

Depois daquela terrível realidade descortinada a mim por Simone e todo aquele mal-estar, depois daquela falsa sensação de culpa que surgia em forma do uma dor na boca do estômago como se houvesse recebido um golpe do Mike Tyson, meu senso prático me gritava para retomar a minha vida, esquecer aquele episódio e nunca mais voltar a pensar naqueles olhos azuis, que tanto contrastavam com aquelas mãos pequenas inertes sobre as coxas, com as palmas para cima.

A caminho de casa, observava um céu inesperadamente azul e sem nuvens que me trazia certa calma e a lembrança de uma distante Quaraí, e de uma infância em que tudo era mais fácil, mesmo para um filho sem pai.

Porém, não podia desviar o pensamento dos últimos eventos, e novamente me perguntava o que havia querido dizer Simone quando disse que me procuraria se precisasse?

Estaria ela tramando uma terrível vingança, juntamente com tantas outras garotas cujas inocências eu havia deflorado? Repassei mentalmente todos aqueles olhares, tantos nomes, tantos rostos…

Não somente isso, mas haveria ela se unido também outros tantos estudantes que por mim haviam sido motivados, mesmo sem grande convicção da minha parte, a participar do movimento estudantil e lutar contra a ditadura, e que sucumbiram como Simone, e sofreram graves punições que deixaram marcas em suas mentes, almas e principalmente, em seus corpos?

Repasso mentalmente outros rostos, outros nomes… Pessoas que nunca mais vi, que julgava não fazerem mais parte da minha história, de meu passado.

Haveria mais alguém desejoso de vingança? Pessoas que passei por cima em minha busca obstinada por ascensão social, talvez… Mais nomes, mais rostos.
Que sentido haveria em tudo isso? Perguntava a mim mesmo. Poderia ser real, ou estaria eu enlouquecendo?

Duvidando da minha própria sanidade, sentia minha cabeça rodando, e meus pensamentos a acompanhavam. Girando, girando, em torno de um único eixo: Simone.

Precisava voltar para casa, sentir que ainda tinha controle sobre minha vida. Precisava ver minha esposa, e relembrar porque ela havia sido o motivo de minha vida por tanto tempo. E principalmente, precisava ter notícias do meu filho.

O taxista para diante do endereço que lhe informara.

Pago a corrida, desço sem pressa, pego minha pouca bagagem. Respiro fundo. Embora em São Paulo, o ar me parecia o mais puro que teria respirado até então.

Minhas mãos tremem, suo frio repassando todas as desculpas, todas as histórias que havia inventado para contornar a situação e justificar minha ausência.

Meto a mão no bolso e retiro uma caixinha embrulhada em papel cintilante. Dentro dela uma pequena jóia que havia comprado no caminho, para sustentar minhas mentiras e tentar não afastar ainda mais sua mãe de mim, logo ela, que seria naquele momento, meu porto seguro.

Abro a porta. Luzes apagadas. Silêncio.

Encontro um bilhete sobre a mesa:

“Sei que esteve com outra mulher. Não me procure mais. Estarei fora do Brasil. O Dr. Almeida já tem a procuração para tratar do nosso divórcio. Adeus”

Desfaleço em uma poltrona.

A vingança de Simone começara.

 

Um comentário:

  1. brunanehring@gmail.com16 de outubro de 2010 às 13:02

    muito estranho: as publicações estão suspensas.....aconteceu alguma coisa?
    que tal informaros participantes? obrigada Bruna Nehring

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